Quem é que nunca teve alguém?
Publicado em 20 de fevereiro de 2011 às 09:15:58
Quem é que nunca teve alguém?
Todos nós temos tido alguém ou alguma coisa. Mas é tão bom! Alguns diriam. Mas e se essa pessoa te disser: "Chega! Acabou! Tá terminado! Eu preciso de um tempo.". Muitos de nós desabaríamos, pois aquela pessoa parecia perfeita e, agora, já não nos pertence. O resultado disso é o sofrimento. Muitos, depois de um acontecimento desse, se trancam no quarto, abraçam o travesseiro e choram amargamente. Outros para fingirem ser fortes, partem para o ataque a dizer: "Eu não preciso dele(a) não" ou "Eu mereço coisa melhor, afinal de contas, eu sou bonito(a)". Grande engano esse. Já outros abraçam o sentimento pietoso, e se mudam definitivamente para os bares da vida e bebem um copo após outro. Outros chutam o balde e partem para o mundo das drogas a dizer: "Já perdi tudo mesmo, o que me resta?". Por quê esse comportamento? De onde ele vem?
Primeiramente, é porque nós estamos a ter alguém, ter alguém não é amar, é possuir. Estar ao lado do outro nos dá aquele sentimento agradável por causa do carinho, da atenção, das trocas de olhares, das carícias, do prazer, do sentir-se seguro, do sentir-se junto e não sozinho. Mas, ao perder isso, entramos em crise porque pensamos que tudo isso vem de fora. Por quê nos sentimos bem com tudo isso? É porque dentro de nós há tudo isso e nós nos identificamos com isso. Mas pensamos que tudo isso vem de fora para dentro.
Como se libertar desse sofrimento e conseguir amar de verdade então? Não é difícil não, difícil é sofrer, é osso. Para tanto, devemos nos amar. Quê! Isso mesmo. Ao sermos capazes de amar a nós mesmos, seremos aptos a oferecer amor. Como é essa coisa de amar a si mesmo? Seria me proteger de todo mal e situações danosas? Não. Amarmos nós mesmos é não nos proteger de nada. É olhar o mundo como ele é, sem querer mudar nada, sem querer possuir nada, pode se ter tudo, mas não possua o que tens, pois "o possuidor é possuido pelo objeto possuído" e, ao ir-se embora o objeto possuído, o possuidor sofre e sente a falta de algo por pensar que aquele objeto o completava.
Estamos a falar de objetos ou pessoas? Pessoas e objetos. Ao tentar possuir alguém, nós a tornamos um objeto e, tornar uma pessoa um objeto, é uma grande violência, ninguém merece ser visto como um objeto, ninguém. Ao tomar alguém por objeto, nós também nos tornamos um objeto, porque nós também somos possuídos. Aí está a causa do sofrimento. Se, ao invés de tentarmos possuir o outro, nós o amarmos nós não sofremos.
Como amar então? A resposta está dentro de nós. Perguntemo-nos a nós mesmos:
- Eu gostaria de ser possuído e não poder viver como eu quero?
- Eu gostaria de alguém a me dizer o que fazer ou não?
- É bom ter os meus passos controlados por outra pessoa?
- Ter uma pessoa para dizer o que posso ou não vestir é bom?
- Ter alguém para dizer com quem posso conversar ou não é bom?
- Não poder sair com quem quero é bom?
- É bom largar os amigos porque estou com alguém?
- É bom ser criticado, comparado, julgado, aprisionado, rotulado, humilhado e ofendido?
- É bom largar tudo o que gostamos por causa de alguém?
Com certeza, a resposta para tudo isso é NÃO. Então, por quê insistimos em fazer tudo isso com o outro e não gostamos que o outro faça a mesma coisa conosco? Por quê sosfremos quando fazemos isso com o outro? É porque ninguém nasceu para passar por isso, nínguém, não há excessão. Nascemos para amar incondicionamente. Quando não nos amamos incondicionalmente, sofremos porque estamos a ir contra nossa própria natureza. É tão óbvio, é tão claro.
Não possuamos ninguém, pelo contrário, amemo-lo com todas as forças, não importa se essa pessoa é nosso companheiro, companheira, amigo, amiga, o carteiro, o padeiro, o Zé da esquina, aquele mendigo lá da rua fulano de tal. Não importa. Todos nasceram para ser amados. Não julga ninguém, não rotula ninguém, ou seja, não transforma as pessoas em objetos, isso faz mal a ti. Ao amar de verdade, com o coração a nossa felicidade e bem estar não depende de nada. Não depende do outro, Somos livres.
Se alguém disser a nós:
O outro: - Acabou!
Nós: - Tudo bem!
O outro: -Não gosto de ti mais!
Nós: - Tudo bem é teu direito mas, nem por isso, eu deixarei de gostar de ti.
O outro: - Você não percebeu que estou a te abandonar?
Nós: - Percebi. É teu direito fazer isso, tu és livre, eu não me importo.
O outro: - Preciso de um tempo!
Nós: - Que bom pois eu posso te dar todo o tempo do mundo.
O outro: - Eu não te amo mais!
Nós: - Pois eu te amo mesmo assim.
Vejamos mais uma situação:
Alguém: - Senhora, se eu pudesse eu te ajudaria, mas eu sou mendigo e estou sujo.
A senhora: - Podes até estar sujo, que me importa, o espírito está limpo e isso importa.
Vejamos outra situação:
Alguém: -Isso é um assalto! Passa o celular!
Nós: - Bem meu amado, meu celular não está aqui não ó! Pode olhar, mas eu tenho dez reais, serve?
Mais uma situação:
Alguém: - Desculpe pelo soco que te dei. Estava meio irado!
Nós: - Tudo bem, faz parte da jornada, não se sinta mau por isso.
Amar é isso, é não lutar com os acontecimentos, é viver em paz com o mundo.
Que me importa se aquem passou de carro ao meu lado e me molhou tudo, isso não vai me fazer melhor ou pior.
Não tenha mais ninguém, ame alguém, ame a todos e, um dia, todos estarão a te amar também, essa é a mágica do amor, ele sempre retorna, não é que retorna, é que ele sempre é.