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Desabafos de um guerreiro temporal

Publicado em 19 de maio de 2013 às 02:29:31

Éons de tempo se passaram e em nesse tempo temos vivido tantas vezes e por mais que quiséssemos nos amar, sempre temos travado lutas. Temos nos olhado uns aos outros como estranhos, como inimigos. Quantas vezes temos nos matados uns aos outros por pensar que éramos diferentes. Retornamos em novos corpos e continuávamos nossas rixas. Movidos pela falsa ideia que estávamos a amar nossos povos, nossos reinos, destruíamos famílias e clãs inteiros e seus reinos. Nos campos de batalhas, quantas vezes temos visto os olhos dos pequeninos a prantear sobre os corpos de seus pais que foram mortos por nossas mãos e sem a menor compaixão ceifamos-lhes a vida por serem frutos de aqueles a quem chamávamos de inimigos. Pensávamos fazer tudo isso em amor aos nossos, aos que amávamos, pensávamos estar a proteger-lhes de uma raça indigna. Estávamos enganados, comportávamos como monstros e mal sabíamos que estávamos a tentar matar o nosso próprio reflexo refletido na face de nossos irmãos e os chamávamos de maus, de inimigos.


O engraçado é que ainda hoje mantemos os mesmos comportamentos, mas dificilmente pegamos em armas. Em nestes dias modernos preferimos ferir-nos uns aos outros com a espada afiada de nosso julgamento, de nossa não aceitação. E aqueles a quem criticamos, agredimos, insultamos são aqueles mesmos que temos torturado, eviscerados, queimados vivos, decapitados, esquartejados, violentados, estuprados no passado. São os mesmos e ainda sim cometemos os mesmos atos. Repetimos a mesma história apenas sob outra óptica. O que mais intriga é que nos amamos tanto que ainda insistimos em renascer ao lado uns dos outros. Por incrível que pareça a esperança de um dia voltarmos a enxergar uns aos outros como iguais, como irmãos nunca morreu. Aquela chama suave que diz que um dia nos amaremos novamente arde lá no âmago de cada um de nós, em nossos corações. Só não enxergávamos isso porque estávamos cego por causa do véu obscuro de nossas mentes doentias que não nos permite enxergar o que realmente somos em essência.


Eu sei não é fácil abraçar aquilo que tememos, aquilo que nos ameaça. Mas temos sido guerreiros tantas e tantas vezes no passado. Passamos por tantas coisas. Somos valentes e mesmo ao saber que não tínhamos a menor chance contra nossos oponentes, dávamos de ombro e nos entregávamos à luta. Agora pergunto, por quê não fazer o mesmo com aqueles que nos ameaçam? Sim, eu estou em pranto enquanto escrevo isso. Porque não dar de ombros e abraçar aquilo que nos ameaça? Por quê não abraçar aquilo que chamamos de inimigo, de medo, de mortal? Ah como eu queria que a humanidade percebesse que ao se fazer isso, ao se tomar tal atitude de coragem, algo mágico vem à tona. Algo que nos faz vermos uns aos outros como iguais. Algo  que enxerga além de nossos corpos, que nos conforta, que nos acalenta em seus braços e sussurra suavemente em nossos ouvidos que somos eternamente amados por aquilo que somos e não há nada a temer.


Por quê se negar a isso? Por quê ter tanto medo de amar de verdade? Não esse amor humano que chamamos de amor, mas que na verdade está impregnado de posse, de cadeias, de grilhões, de renúncia, de sacrifícios. Estou a falar de um amor que traz a redenção, a paz, a harmonia.


Não te peço perdão pelas vezes que travamos batalhas, pelas vezes que o matei, ou pelas vezes que me tens matado a mim e aos meus e nas vezes que matei e dizimei os teus. Eu te amava sim e sei que tu me amavas, no entanto, não sabíamos quem éramos e, em nossa cegueira, fizemos tudo o que fizemos. Eu te amo. Nós nos amamos, somos um, eu e ti, eu e vós. Se pudesse eu beijar-te-ia, não me importa quem aparentas ser tu, homem ou mulher. A única coisa que me importa nesse momento é que eu te amo e somos um, pois eu sei que teus lábios são também os meus e que os meus são também os teus e que por muito tempo nossos corações tem se distanciado. Eu te amo sem "PORQUÊS", afinal de conta ainda estamos aqui não estamos? Esse campo onde outrora temos derramado nosso sangue, agora é o campo do amor e sobre ele edificamos os pilares de uma nova era.

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