Relacionamento amoroso
Publicado em 14 de agosto de 2012 às 20:18:31
Ao se deparar com alguém e se travar um dialogo, logo vemos em aquela pessoa uma certa afinidade ou, as vezes não. Talvez não haja diálogo, no entanto, há uma certa simpatia, uma certa magia.
No decorrer do tempo, estabelece-se uma amizade. Amigos percorrem a vida lado a lado, mesmo que isso não signifique ter a mesma direção, mas o sentido é sempre o mesmo, ou seja, o centro.
Muitas vezes os amigos se amam, por mais que um pareça irritante, o outro não está nem aí e logo diz: “É o jeito dele. Mas é um bom amigo!”. Assim caminham, podem até não concordarem mas a amizade continua. Tem-se aquele sentimento de que “Ele é grandinho e sabe o que faz. Quem sou eu para dizer a ele o que fazer?”. Ora, o que temos aqui senão um relacionamento amoroso? Não é perfeito, pois ainda sim há julgamentos por causa das maneiras de proceder um do outro. Mas é, até certo ponto, amoroso.
Em um belo dia – E que dia não é belo, não é mesmo? - nasce algo mais. Uma atração que os fazem romper a distância que há entre os amigo, ou seja, o tocar o outro. Ah o toque! Algo mágico. O mundo julga que estão a ir além da amizade, no entanto, continuam a ser amigos, apenas surgiu a vontade de se experimentarem. Simplesmente aconteceu, não foi premeditado, não foi forçado. Ao estarem juntos não há cobrança de espécie alguma, não há obrigação, nem mesmo desejo de querer ser amado ou de amar. É natural. É inocente. É divino. Não há julgamento ali. Isso é o mais perto que o humano pode chegar do amor, inconscientemente é claro.
Os ciclos passam e, no âmago de ambos ou, às vezes de uma só das partes, surge um desejo de possuir o outro. Pode até não parecer, mas nesse momento, o amor que antes havia ali está a dar lugar para o medo e suas energias, ou seja, o apego, a posse. O que era natural e espontâneo começa a se tornar algo necessário. Não há mais paz dentro de si. Ver o outro, estar com o outro é algo imperativo, necessário. Com isso, toma-se a decisão de tomar posse do outro e querê-lo somente para si mesmo. Neste exato momento, o amor é sepultado e o medo se ergue das sombras. O sofrimento é iminente, é certo. O humano, no entanto, considera isso como o início de um grande amor. Para o humano sofrimento e amor andam de braços dados. Aqui está um paradoxo. O amor e o medo não podem dar as mãos. Mas ao aceitar o medo, somos levados ao amor. Nas profundezas do medo há uma porta que, se aberta, nos leva ao amor. Mas, ao invés de aceitar o medo tal com ele se nos apresenta, pomo-nos a lutar contra ele e isso gera toda sorte de sofrimento.
Não conseguimos mais estar longe um do outro. Contam-se os minutos até o próximo encontro. A alegria de viver desaparece e dá lugar a ansiedade. Nossa alegria agora foi depositada sobre o outro, depende do outro. Assim pensa o humano. Como isso é uma impossibilidade, sofre-se. Sofre-se por não amar a si mesmo e por atribuir o nosso bem-estar ao outro. Ninguém nos pode proporcionar bem-estar a não ser nós mesmos. O encontro acontece, um alívio se faz presente, mas não basta, queremos mais. Queremos aquilo sempre e somos tomado por um desejo intenso de possuir o outro a todo custo. Parece uma questão de sobrevivência.
Os ciclos passam e conseguimos o outro, assim pensa o humano. Logo vem uma sensação de agora sim haverá de ser feliz. Doce engano! Agora o intuito é proteger o que “é nosso”. Para isso estabelece-se regras, normas e as impõe ao outro e espera-se que o outro acolha tais regras e normas. Qualquer tentativa de se desviar de tais regras e normas é motivo para repressão e talvez até punição violenta. O amor já está totalmente ausente e o medo paira no ar. Estão a respirar medo. Ambos tentam se impor um ao outro, mas no íntimo, ambos tentam se libertar da tirania do outro. Tudo isso acontece inconscientemente, a vida perdeu a sua leveza, a doçura e a única coisa que resta é o peso de relacionar. No entanto, o humano considera isso normal e simplesmente o toma como algo a ser vivido. Parece não ter escolha, por isso não tenta sair dessa realidade e simplesmente aceita este estado doentio de se viver.
Nota-se que o humano não sabe o que faz e cultua o medo a pensar que está a amar. No entanto não há julgamentos a respeito disso. Ninguém o pode ajudar a não ser ele mesmo. Há de se querer amar de verdade, é a única maneira de sair dessa realidade que prazer não traz.
O amor é o caminho, é o único caminho.